Em todo o país, mulheres negras estão organizando atos, plenárias e atividades formativas sob o lema “Reparação e Bem Viver”. A Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) integra essa mobilização com foco na defesa de direitos, na redução das desigualdades e no enfrentamento ao racismo no ambiente de trabalho. A agenda coloca o mundo do trabalho no centro do debate, ao articular reivindicações concretas para melhorar as condições laborais e garantir participação efetiva das mulheres negras nos espaços de decisão sindical e institucional.
Por que esta mobilização importa para o trabalho
Mulheres negras compõem uma parcela expressiva da força de trabalho no Brasil e, historicamente, enfrentam barreiras adicionais para acessar empregos de qualidade. Pesquisas oficiais mostram que elas estão mais expostas à informalidade, recebem menores salários e ocupam funções com alta carga de desgaste físico e emocional. Essas desigualdades se somam a responsabilidades de cuidado não remuneradas, o que limita tempo para qualificação e participação política.
Ao aderir ao chamado nacional, a NCST reforça que combater o racismo e o sexismo não é uma pauta isolada, mas um eixo estrutural para avançar em trabalho decente, negociação coletiva e proteção social. A mobilização busca traduzir esse compromisso em propostas objetivas e ações permanentes.
Pautas centrais apresentadas ao movimento sindical
Igualdade salarial e promoção profissional
A mobilização enfatiza o cumprimento efetivo da legislação de igualdade salarial e medidas de transparência remuneratória. Entre as sugestões estão auditorias periódicas, comissões paritárias e metas de promoção que considerem raça e gênero, especialmente em cargos de supervisão, chefia e direção.
Valorização do trabalho de cuidado
Outra prioridade é ampliar a oferta de creches e serviços de cuidado, condição fundamental para que trabalhadoras negras conciliem emprego, formação e vida familiar. A pauta inclui incentivos a empresas que adotem horários flexíveis, licenças parentais equitativas e políticas de apoio a mães solo.
Proteção no emprego doméstico e em atividades precarizadas
A agenda reforça o cumprimento das garantias do trabalho doméstico e o combate à informalidade em setores com alta presença de mulheres negras, como serviços, comércio ambulante, limpeza e cuidados. Orientação jurídica, fiscalização e acesso a previdência e crédito são medidas destacadas.
Ambientes de trabalho seguros e sem assédio
Protocolos de prevenção e resposta ao assédio moral, sexual e ao racismo no trabalho são parte central das reivindicações. A mobilização defende canais confidenciais de denúncia, formação de lideranças e cláusulas específicas nas convenções coletivas.
Formação, dados e participação
A NCST e entidades parceiras planejam ações de formação contínua sobre direitos trabalhistas, negociação coletiva, segurança e saúde no trabalho e combate a discriminações. A produção e o uso de dados com recorte por raça e gênero são apontados como instrumentos para orientar políticas, avaliar resultados e corrigir distorções. Esse monitoramento deve abranger salários, promoções, afastamentos por doença e rotatividade.
Outra frente é ampliar a presença de mulheres negras em diretorias sindicais, com políticas de incentivo, cotas internas e programas de liderança. O objetivo é garantir que as demandas estejam representadas tanto nas bases quanto nas mesas de negociação, fortalecendo a legitimidade das pautas apresentadas.
Ações previstas na mobilização
De acordo com as entidades envolvidas, a mobilização inclui atos públicos, rodas de conversa nos locais de trabalho, atendimento jurídico itinerante e campanhas informativas. Há prioridade para orientar trabalhadoras sobre direitos, acesso a benefícios, canais de denúncia e procedimentos para registrar casos de discriminação. Também estão previstos encontros estaduais e nacionais para alinhar propostas antes de rodadas de negociação coletiva.
O calendário contempla atividades culturais e educacionais, que funcionam como espaços de acolhimento e escuta, além de fortalecer redes de apoio entre sindicatos, coletivos de mulheres e organizações comunitárias. Em muitas cidades, as ações dialogam com agendas permanentes de prevenção à violência e de geração de renda.
Impactos esperados para o mundo do trabalho
A expectativa é que a mobilização pressione por cláusulas antidiscriminatórias mais robustas, metas de contratação e promoção para mulheres negras e programas setoriais de qualificação, incluindo habilidades digitais. Com isso, sindicatos e empresas podem avançar em soluções que reduzam a rotatividade, ampliem a produtividade e garantam ambientes mais seguros e inclusivos.
Há também um componente de saúde e segurança. Medidas preventivas, ergonomia e acompanhamento adequado de adoecimentos ocupacionais tendem a reduzir afastamentos e custos, além de proteger trabalhadoras que atuam em tarefas repetitivas ou expostas a riscos físicos e químicos.
Como trabalhar em conjunto
A mobilização convida sindicatos, comissões internas e empresas a estabelecer planos de ação com metas e prazos. Isso inclui capacitar equipes de recursos humanos, criar comitês de diversidade com participação de trabalhadoras e prever campanhas anuais de conscientização. O diálogo com órgãos públicos de fiscalização e com defensorias pode acelerar soluções e garantir resposta qualificada a denúncias.
Para trabalhadoras e trabalhadores, os canais dos sindicatos filiados à NCST oferecem informações sobre programação, serviços de orientação e formas de participação. A presença em assembleias e a contribuição com relatos de casos concretos ajudam a construir pautas de negociação mais precisas e efetivas.
O sentido de reparação e bem viver
No contexto do trabalho, reparação envolve reconhecer desigualdades históricas e adotar medidas práticas para superá-las, com foco em renda, proteção social e oportunidades reais de ascensão. Bem viver significa garantir condições dignas, tempo para cuidado e convívio, e ambientes livres de violência. Ao integrar a mobilização nacional das mulheres negras, a NCST reafirma o compromisso de transformar essas diretrizes em políticas e cláusulas coletivas capazes de produzir mudanças mensuráveis no cotidiano de quem trabalha.







