Em 7 de abril de 2022, a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em São Paulo, consolidou uma pauta de reivindicações comum das centrais sindicais. Entre os eixos centrais, destacou-se a correção da tabela do Imposto de Renda (IR) e a ampliação da isenção para quem ganha menos. Sete dias depois, em 14 de abril, a Pauta Unitária da Classe Trabalhadora foi entregue a Luiz Inácio Lula da Silva, então pré-candidato à Presidência, fixando prioridades que voltariam ao debate público nos anos seguintes.
O que a Pauta Unitária propôs sobre o Imposto de Renda
A demanda sindical era objetiva: recompor a tabela do IR corroída pela inflação, criar mecanismo de atualização periódica para evitar perdas futuras, ampliar a isenção para salários mais baixos e reequilibrar o sistema pela via da progressividade. Isso inclui tributar mais a renda do capital, como lucros e dividendos, e reduzir o peso sobre a renda do trabalho. A pauta também evocou simplificação para assalariados, previsibilidade nas regras e transparência na retenção mensal, a fim de que trabalhadoras e trabalhadores compreendam com clareza quanto pagam e por quê.
O que mudou desde 2022
Após a Conclat e a entrega da Pauta Unitária, o tema avançou. Em 2023, o governo ampliou a faixa efetiva de isenção para quem recebe por volta de dois salários mínimos, por meio de um desconto simplificado na base de cálculo. Em 2024, a isenção efetiva foi novamente ampliada, alcançando cerca de R$ 2.824 por mês, o que retirou do IR parte expressiva de quem vive do salário. Paralelamente, houve medidas para aumentar a tributação sobre altas rendas e patrimônios financeiros, como a incidência sobre fundos exclusivos e rendimentos no exterior. No Congresso, prosseguiu o debate sobre tributar lucros e dividendos e aperfeiçoar a progressividade do sistema.
Mesmo com esses passos, a defasagem histórica da tabela ainda não foi totalmente superada. O tema permanece na agenda sindical e governamental, com compromisso público de seguir ampliando a isenção e recompondo as faixas de forma responsável. A discussão ocorre em paralelo a mudanças estruturais na tributação do consumo, com a preocupação de reequilibrar o sistema para que quem tem menor renda não seja proporcionalmente mais onerado.
Impacto no bolso de quem vive do salário
Para quem ganha perto do salário mínimo, as mudanças recentes significaram alívio imediato: menos retenção mensal e, em muitos casos, isenção. Para faixas de renda logo acima, a ampliação da isenção reduziu a mordida do IR na fonte, melhorando o rendimento disponível. Porém, sem correção integral da tabela, a inflação pode empurrar salários nominais para faixas mais altas, fenômeno conhecido como “arraste” (ou correção pela inflação que não acompanha as faixas). É esse efeito que a Conclat 2022 buscou enfrentar ao defender reajustes automáticos e uma estrutura de alíquotas que preserve o poder de compra.
Por que a correção da tabela importa para a classe trabalhadora
Corrigir a tabela não é apenas questão de alívio tributário; é um componente de justiça fiscal. Quando os reajustes salariais repõem a inflação, mas a tabela não acompanha, o trabalhador paga mais imposto sem aumento real de renda. A atualização periódica dá previsibilidade às famílias, facilita a negociação coletiva e torna o sistema mais coerente com o princípio da capacidade contributiva: quem pode mais, paga mais; quem pode menos, paga menos ou nada.
Desafios e próximos passos no Congresso
Avançar nessa agenda envolve dilemas de arrecadação e equilíbrio fiscal. Ampliar isenções e corrigir faixas gera renúncia, o que exige compensações. A pauta sindical aponta caminhos: fortalecer a tributação sobre rendas muito altas, lucros e dividendos, e aprimorar a incidência sobre patrimônios financeiros. A construção de consenso depende de negociações entre governo, Congresso, centrais sindicais e setores empresariais, com avaliações de impacto, transição gradual e regras estáveis que deem segurança a trabalhadores e empresas.
Orientações práticas para trabalhadoras e trabalhadores
No holerite
Verifique mensalmente a faixa do IR e as deduções aplicadas. Dependentes, pensão alimentícia e contribuições previdenciárias impactam a base de cálculo. Se sua renda está próxima da isenção efetiva, confirme se o desconto simplificado mensal está sendo utilizado conforme as regras vigentes.
Na declaração anual
Compare os modelos completo e simplificado antes de enviar. O completo pode ser vantajoso se você tem muitas despesas dedutíveis (saúde, educação, dependentes). Já o simplificado oferece cálculo mais direto. Guarde comprovantes e informe-se, junto ao sindicato ou a fontes oficiais, sobre prazos e eventuais novidades normativas.
Na negociação coletiva e nos locais de trabalho
Inclua o tema tributário na pauta de negociação, especialmente quando houver reajustes salariais. A atualização da tabela e a ampliação da isenção afetam o salário líquido e a distribuição do ganho real. Sindicatos podem oferecer orientação contábil, plantões de esclarecimento na época da declaração e materiais didáticos para apoiar a base.
Da Conclat 2022 ao debate atual, a correção do Imposto de Renda e a tributação de altas rendas seguem como linhas de força para um sistema mais justo. O caminho envolve passos gradativos, transparência nas regras e participação social. Mantendo o foco na proteção do salário e na progressividade, a agenda inaugurada em 2022 continua a orientar propostas capazes de melhorar a vida de quem sustenta o país com o trabalho cotidiano.







